Sonoridade portuguesa surpreende no festival de Ambert

O Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul em representação de Portugal, deixou bem marcada a sua passagem por terras gaulesas. A sonoridade que apresentou não deixou ninguém indiferente. O Festival de Ambert – França, promoveu a ronda dos grupos participantes pelas localidades desta região francesa. Muito trabalho, pouco descanso e uma grande resposta do grupo português são notas de destaque.
Uma população envelhecida, fechada, pouco dada a climas festivos, o frio, a sobrecarga de trabalho com uma deficiente gestão dos tempos de descanso, não foram suficientes para quebrar a garra e o empenho do Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul, que representou Portugal, no Festival de Ambert - França intitulado “Le Ronde des Copains du Monde”, sob a égide do “Conselho Internacional das Organizações de Festivais de Folclore e Artes Tradicionais” – CIOFF.
De facto, quando a delegação portuguesa no passado dia 13 de Julho, chegou a Ambert estava longe de pensar que iria ter pela frente uma maratona de animações e actuações em diversas localidades francesas. Na verdade, logo na noite da chegada o grupo paulense teve de realizar um enorme desfile pelas ruas de Ambert até ao local onde uma multidão assistiu ao fogo de artificio, começava aqui uma “ ronda” de extrema exigência física que obrigou o grupo português bater-se galhardamente pela dignidade do folclore da sua região e do seu país, apesar do esforço quase desumano que lhe foi solicitado em alguns dias da sua estadia na França.
Ambert, é uma cidade que outrora tinha nos objectos religiosos uma das suas principais áreas produtivas, agora tem uma grande industria de cablagem eléctrica e outra de medicamentos, depois são pequenas empresas ligadas aos vários sectores produtivos, mas o que se estranha e não se entranha é o aparente “ divorcio” entre a sua população e a realização deste grande acontecimento cultural que já vai na vigésima edição. A poucos quilómetros de Clemont Ferrand e de Lyon, esta localidade francesa está em zona montanhosa rodeada de intenso e verdejante arvoredo, tal como na Pousada da Juventude em St. Martin des Olmes, onde ficou alojada a delegação portuguesa a escassos cinco quilómetros de Ambert. O tempo é bastante chuvoso e frio, tal como as pessoas que não partilham emoções com os forasteiros, daí que a festa esteve sempre limitada às próprias delegações dos países participantes, nomeadamente: Irlanda, Colômbia, Guadalupe, Paraguai, Servia, Polónia Rússia, Kénia, Bolívia, Suíça e claro está Portugal, pese embora, estarem todos alojados em locais diferentes e não terem muito tempo para o lazer.
Da frieza de uns à alegria da formação lusitana
Objectivamente, a lógica empresarial dos organizadores do festival levou à mercantilização do folclore com os grupos a serem “usados e abusados” em animações e espectáculos pagos à organização, sem esta acautelar minimamente tempos de descanso e a própria segurança das pessoas. De acordo, com os responsáveis do festival esta estratégia de funcionamento deriva da crise económica internacional e da dificuldade de por de pé este evento que custa cerca de duzentos mil euros e envolve quase uma centena de voluntários, entre os quais, se encontravam alguns guias desprovidos de sensibilidade para serem interlocutores dos grupos, chegando mesmo a registarem-se atitudes “ frias e autocráticas” provocando o desagrado dos folcloristas de forma generalizada.
Mas, o grupo português apesar de esta contingência esteve sempre no seu melhor, quer logo pela manhã quando era escalado para animar clínicas e lares para idosos, muitos deles com doenças incapacitantes e degenerativas, quer quando andou pelas ruas e pelo mercado semanal que tem lugar às quintas-feiras em Ambert.
Sempre bem dispostos os portugueses onde chegavam faziam a diferença e a festa acontecia, nos espectáculos em palco assumiam uma postura de amadores com grande profissionalismo.
Com efeito, no que concerne ao desempenho do grupo português nesta jornada além fronteiras importa referir alguns momentos a destacar, desde logo o desfile das nações que abriu o festival na quarta-feira 16 de Julho, com o Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul, a encerrar a apresentação dos grupos com uma dinâmica quer nas danças, quer na sonoridade dos bombos , gaitas-de-foles e adufes, que “ obrigava” o público a interagir e a incentivar a formação lusitana.
O desfile terminou no edifício da Câmara de Ambert, cuja arquitectura distingue-se das outras, justamente, porque é totalmente redondo e com arcadas com a mesma geometria cheias de gente a aplaudir a passagem das formações de cada país que subiram até á nave central do edifício camarário para ai ter lugar a cerimonia oficial de boas-vindas e troca de lembranças.
À noite no Jardim Publico, no espectáculo “ Horizontes do Mundo” os países fizeram a sua apresentação em palco com uma pequena actuação, precedendo a abertura colectiva com um par de cada país participante a anunciar o seu lema para o festival, sendo que, Portugal escolheu a frase “ todos diferentes todos iguais”.
“Cantos e Sons da Terra” arrebata público
Logo no dia seguinte, no Centro Multicultural de Arlanc, uma localidade situada na periferia de Ambert, o grupo paulense protagonizou outro momento delicioso com a animação para as crianças que cantaram, participaram em jogos de infância e tocaram os instrumentos do grupo. Nesta altura, num clima bem disposto e meramente informal o grupo que precisava de recarregar as “ baterias” (físicas e psicológicas) trocou de identidades com os homens a tocar adufe e as mulheres os bombos, originando um momento inesquecível de diversão para todos.
A partir de sexta-feira 17 o grupo português desdobrou-se em actuações em Feurs e Riom es Montagne, Nesta ultima localidade, a mais de cento e cinquenta quilómetros de Ambert e em plena montanha oito grupos participantes do festival “ Le Ronde des Copains du Monde”, entre os quais o português, deram corpo à vigésima quarta edição do “ Festival de Musica Sem fronteiras de Riom es Montagne”. Era o “dois em um” que a organização tinha reservado para os participantes deste “ sui generis” festival de Ambert.
No domingo 19 de Julho, teve lugar o encerramento do Festival de Ambert com a “Noite Privilégio” na magnífica Salle de la Scierie, cabendo a Portugal, Polónia, Paraguai e Kénia esta missão. A delegação portuguesa nesta altura já muito cansada fez um apelo à sua debilitada reserva de forças e arrancou uma grande exibição que levou o presidente do festival Patrick Pascal, a dirigir-se aos responsáveis do grupo felicitando-os pela qualidade do espectáculo intitulado “ Cantos e Sons da Terra”.
Terminado o festival nos dias seguintes (segunda-feira 20 e terça-feira 21) o Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul, actuou ainda em Saint - Férreol des Cotes e Marsac- en - Livradois respectivamente, terminando uma missão difícil mas cumprida com brio e dignidade, deixando em terras gaulesas o nome de Portugal bem marcado no imaginário colectivo das populações por onde passou.


O festival visto pelos outros
Durante dias recolhemos diversas opiniões sobre o festival e o desempenho do grupo português, eis o que eles disseram:
Este ano o festival está a comemorar vinte anos e tem mais grupos todos de boa qualidade. Os portugueses são muito festivos e alegres. Onde chegam de imediato a sua presença é notada por estas características. Quanto á sua sonoridade é muito apelativa e forte. Em conversa com outros colegas consideramos que é dos melhores grupos que aqui estão este ano”.
Aureli – Guia do grupo português.

Gostei muito grupo de Portugal o meu pais que está sempre no meu coração. Foram muito gentis quando fora do programa fizeram uma pequena demonstração no parque de campismo “Le Sedour” onde sou a gerente. Obrigado Portugal”.
Teresa Pereira – Emigrante há 38 anos natural de Chaves

“Este festival não cumpriu um dos objectivos do CIOFF a promoção da paz e da cultura entre os povos, foi muito desgastante para os grupos. Quanto ao grupo português é de muita boa qualidade. Defende a cultura tradicional do seu país e consegue introduzir nos seus espectáculos alguma inovação sem descaracterizar a tradição. Foi uma surpresa muito agradável ver o grupo de Portugal”.
Mário Garcia – Director técnico do Paraguai; Delegado do CIOFF do Paraguai e Representante do CIOFF do Sector da América Latina

“ Dos grupos que aqui estão em Riom es Montagne a participar no “Festival de Musica Sem Fronteiras” o grupo português conseguiu atrair mais gente nas ruas. O seu espectáculo é muito bonito e com uma grande sonoridade conseguida através dos seus tambores. Quero agradecer a Portugal ter vindo dado um pouco da sua cultura aqui a Riom es Montagne”
Stéphane Antignac – Adjunto do Presidente de Câmara de Riom es Montagne

O festival de Ambert é de boa qualidade técnica. A música da Bolívia também se identifica com a de Portugal. O grupo português é muito dinâmico e alegre nas suas actuações”. Não deixa ninguém indiferente quando passa. Muito bem”.
Mário Conde – Director Técnico da Bolívia

“Foi uma emoção muito grande ouvir as canções da minha região. Quando soubemos que vinha aqui um grupo de Portugal e logo do Paul foi um alvoroço e para nós portugueses foi uma alegria enorme. O Rancho do Paul esteve muito bem e aqui os franceses de Saint – Férreol des Cotes gostaram muito espectáculo”.
Leonor e Joaquim Rato – um casal de emigrantes há 40 anos, naturais da Covilhã

“Foi a primeira vez que vim com o Rancho do Paul ao estrangeiro gostei muito de estar aqui na França com os meus colegas. Gostava de vir mais vezes a estes festivais”.
Nelson – um dos elementos mais novos e estreante da delegação portuguesa

“Vi o espectáculo em Feurs a setenta quilómetros de Ambert e vim agora ao encerramento do festival a ver novamente o espectáculo de Portugal, estou encantada com o grupo do meu país. Tem uma grande qualidade que ainda agora no espectáculo final ficou comprovada.”
Fátima Botelho – Emigrante portuguesa dos Açores

“O espectáculo “Cantos e Sons da Terra” funcionou muito bem. Penso até que, as pessoas que fazem este espectáculo não sendo profissionais fazem um trabalho de boa qualidade podendo mesmo trabalhar-se com elas tendo em visto a melhoria do espectáculo. A crítica que ouvimos foi muito positiva e deixou-me bastante satisfeito.
Aliando a tradição com a inovação é possível construir-se um espectáculo de sucesso principalmente aqui neste circuito estrangeiro. Por isso o balanço que faço é muito positivo”.
António José Duarte – Director Técnico do grupo de Portugal

“A estratégia que montamos ao fazer esta ronda com os grupos pelas localidades da região de Ambert deve-se ás dificuldades económicas e à própria crise internacional, o festival de Ambert tem um custo muito elevado (200 000 €), só assim é possível a sua realização. Sabemos que os grupos trabalham muito, por isso, tentamos gerir o descanso dos mesmos. Fizemos o que nos foi possível. O balanço que faço deste festival é muito bom e estou muito satisfeito com a globalidade dos grupos. Na verdade, os grupos que participaram nele são de todos de boa qualidade. Quanto ao grupo de Portugal, teve uma prestação extraordinária e fez a diferença pela defesa da tradição. È um grupo purista, genuíno mas com uma sonoridade inovadora. Quero destacar a sua dinâmica, a sua expressão facial, a alegria, o sentimento e a cumplicidade intergeracional com que actua. È um grupo de bom nível e de qualidade que tem uma cultura festiva talvez um pouco “intensa” de mais para a população de Ambert, muito envelhecida e recatada”.
Patrick Pascal – Presidente do Festival de Ambert

“ Para além do cansaço físico estamos de consciência tranquila ao cumprimos a nossa missão de representar a cultura da nossa região e do nosso país de forma digna e empenhada.
Fizemos o nosso melhor como sempre, daí que, nas diversas localidades onde actuamos sentimos o melhor acolhimento e uma boa adesão do público, principalmente, dos portugueses que nos dispensaram o seu calor humano tão reconfortante nesta região tão fria, quer no clima, quer na expressividade das suas populações, não obstante, haver honrosas excepções, desde logo, cito os responsáveis da pousada onde estivemos alojados um bom exemplo da excepção, entre outros.
Resta-me agradecer a todos os elementos do Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul, a forma abnegada e exemplar que demonstraram no cumprimento de mais esta digressão que uma vez mais honrou Portugal.”
Leonor Narciso – Chefe da Delegação Portuguesa; Presidente da Direcção da Casa do Povo do Paul
" Fonte Inforpaulense"