Aldeias transmontanas preservam tradições e os burros

O Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul, na aldeia de São Joanico, bem no interior do Nordeste Transmontano, animou um magusto. Música e castanhas foram os ingredientes do serão passado nesta aldeia trasmontana. Na manhã seguinte os beirões andaram de burro até à aldeia de Paradela.
Preservar o sabor da tradição e a raça asinina com particular incidência no Burro de Miranda, são objectivos da Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino, promotora d0 magusto musical. A Região de Trás-os-Montes e Alto Douro, na qual se insere o Nordeste Transmontano, oferece excelentes motivos para uma visita para quem quer mergulhar no Portugal profundo, deslumbrar-se com as paisagens agrestes e sentir a hospitalidade de pessoas genuínas.Mas no Planalto Mirandês (Miranda do Douro) espera-o uma recepção especial, pois a Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA) e o burro de Miranda têm um programa de actividades para partilhar consigo, família e amigos respectivamente. Na verdade esta associação sem fins lucrativos fundada a 9 de Maio de 2001, tem por objecto social a protecção e promoção do Gado Asinino, em particular a raça autóctone de asininos das Terras de Miranda – Burro de Miranda. Para conseguir a prossecução deste objectivo central a AEPGA reúne criadores e admiradores deste gado e contribui para o melhoramento genético e criação de um conjunto de animais de características semelhantes, que actualmente sobrevive no Planalto Mirandês, representando a primeira raça autóctone de asininos de Portugal.
A luta pela preservação de um património genético, ecológico e cultural único no nosso país, tendo neste momento em funcionamento três centros vocacionados para actividades específicas, onde se encontram alojados cerca de cento e dez burros pertencentes à Associação, é um nobre desígnio dos seus jovens dirigentes, que promovem durante o ano diversas actividades culturais sempre com passeios de burro associados às iniciativas, revalorizando a imagem do Burro a nível nacional, particularmente do Burro de Miranda.
Preservar os burros e tradição
Foi neste contexto que, a iniciativa “l Brano de San Martino”decorreu nas aldeias de Serapicos, São Joanico e Paradela com cinema, almoços campestres e jantares micológicos, passeios de burro, oficinas Outono, magusto e arraial tradicional com a participação do Rancho Folclórico da Casa do Povo do Paul.
De facto, o grupo beirão na aldeia de São Joanico, perto de Vimioso, na noite em que Portugal jogava o primeiro jogo para obter o passaporte para o Mundial de Futebol de 2010, teve a incumbência de mostrar um pouco da sua cultura aos transmontanos que gradualmente foram interagindo com rancho do Paul, a fazer valer o som característico dos bombos, das gaita e adufes e a conseguir animar o serão sempre com o aconchego do calor da fogueira.Já noite ia um pouco adiantada quando São Pedro, anunciou a sua presença com uma chuva miudinha mas persistente que obrigou a transferir a festa para dentro do café da aldeia transmontana, palco de uma verdadeira jornada de confraternização entre beirões, trasmontanos e alguns espanhóis que marcaram presença na iniciativa.
A comitiva beirã depois de pernoitar num Centro de Juventude da região, na manhã seguinte na aldeia da Paradela, antes do almoço fez uma longa caminhada até à capela de São Martinico.
Os burros já estavam prontos neste local onde a comunhão do homem com a natureza é perfeita e a música das gaitas soava melhor no alto do monte quando começou a anunciar o regresso até à aldeia de Paradela, desta vez com muitos beirões montados nos famosos burros mirandeses. Uma experiencia diferente, mas marcadamente cultural até porque muitos jovens não conheciam as virtudes deste animal que ainda hoje é utilizado pelas populações locais, como meio de transporte, animal de carga e nos diversos trabalhos agrícolas, surgindo como elemento central na paisagem agreste e simultaneamente bela que caracteriza esta região do país.
Troca de saberes aproxima regiões
Para Joana Braga, a presidente da AEPGA, este intercâmbio cultural foi uma experiencia positiva, “ o Burro de Miranda neste momento simboliza toda a cultura os valores naturais desta região, o nosso objectivo ao organizarmos este tipo de iniciativa onde se insere o magusto musical, é divulgarmos o nosso trabalho e simultaneamente mostrarmos a quem nos visita as mais-valias culturais e patrimoniais do Planalto de Miranda”. Esclarece esta jovem dirigente que acrescenta,” a vinda do grupo do Paul é muito importante para mostrar às pessoas daqui projectos diferentes de associações de meios mais urbanos, até porque, a troca de saberes tradicionais, da cultura musical, até da gastronomia enriquece ambas as partes e aproxima as regiões, isto por um lado, enquanto por outro é igualmente importante que quem nos visita possa divulgar todo este trabalho que gira em torno da preservação do Burro de Miranda e revalorizar um modelo de aproveitamento socio-económico que respeite e preserve o riquíssimo património cultural e natural da região do Nordeste Transmontano”. Assegurou Joana Braga.Importa ainda referir que a familiaridade e a hospitalidade que se encontram por estas terras do Nordeste Transmontano são um traço inconfundível e são sentimentos que não são fáceis de encontrar nos tempos que correm. Agora, no mundo, a individualidade é emergente e há pouca solidariedade com o meio ambiente, os animais, as tradições e a ruralidade, ao invés do que AEPGA defende e materializa.